Bem, no dia seguinte fui acordado pelo barulho que rondava as redondezas da minha rede. Era a galera já de pé para aproveitar o último dia de lazer em Boa Vista do Itá. Dei um pulo da rede quando disseram pra mim ir logo antes que acabasse o pão (tomar café pra mim sem pão... é ruim ein!). Depois de fazer a primeira refeição matinal, voltei pro alojamento (puxa, desculpe não ter falado antes: o alojamento era uma antiga escola de madeira 1 sala, um banheiro, 1 secretaria que ficava o freezer e os instrumentos da capoeira e outra que não sei o que tinha, estava fechada) e deite-me numa rede qualquer. Não conseguindo dormir e rolando parece cobra com espírito de preguiça, pro lado e pro outro me encaminhei para o igarapé. No caminho encontro o Márcio vindo com a sua mulher e seu filho. Ele mata uma "caba" que mais parecia um morcego.
Segui caminho adentro, no caminho das tábuas, encontrando o Elton e o Edivan dando uma de pescador, e o Carlos e o Kaê dando uma de ribeirnhos na canoa. Me atrevi a dar volta de casco com os dois, depois de um pequeno desenteimento momentâneo entre as duplas, cedemos a canoa para os "pescadores" dar uma volta pelo igarapé. Voltamos para a casa da D. Tereza, eu com uma fomezinha, solidarizado por um pacote de bolacha e um pouco de café e ainda dividir com o Cleideson, a se não fosse o Projeto de Deus! (uahuahuahuahua).
Depois, o almoço estava pronto: uma delícia de frango no tucupí, produzido e doado pelas vizinhas quilombolas. Comi que até pedi mais um pouco de caldo de frango no tucupí com arroz, para misturar com farinha (ai água na boca!), depois pedi mais um pouco, acho que pedi umas três vezes (estava muito gostoso mesmo!)
Depois do almoço, alguns tentaram dormir mas, quem disse que conseguiram? Depois os meninos começaram me zuar com uma música que nunca deveria ter saído do inferno; eu ia escovar os meus dentes e eles cantavam com violão, pandeiro, atabaque e as suas vozes atrás de mim. Entre por um instante na capela, mas eles não entraram, afinal eles respeitaram o local (a se não fosse a capela!). Depois tentei sair de fininho, mas... eles me viram e foi-se. Corri o terreiro com eles cantando atrás de mim, entre na casa da D. Tereza e eles atrás. Foi aí então que me lembrei que o Júnior convidara a todos pra tomar banho juntos no igarapé e fazer alguns registros fotográficos. Estrategicamente, corri em direção ao caminho do igarapé e querem saber dos meninos... também!
No meio do trajeto, eles pararam de cantar, e seguimos rumo a "ponta" do igarapé. Lá tinha uma corda pendeura em uma árvore que era usada para segurar o corajoso para pular de uma árvore, estilo "Tarzan" e se jogar lago abaixo. Os corajosos foram na frente. O Júnior dando uma de "macho", subiu na parte onde saia o pulo e ficou quase 5 minutos com a perna tremendo de medo, mas depois de várias instruções dos que já manjavam, ele pulou.
Claro que depois dessa eu não podia ficar com medo também. Subi e com uma pequena acrofobia, fiquei a ouvir a dita cantiga do diabo que os meninos entoavam anteriormente. Após uma ajuda do companheiro Cleideson, me joguei água dentro. Cai com os meninos fazendo uma chuva em cima de mim, assim como seguiram com a mesma prática com os demais que saltavam da corda. Numa "brilhante" idéia, dois meninos (não me lembro quem) acabaram com a diversão, quebrando o apoio que servia como ponto de partida de nossos saltos.
Mas como jovem é sempre criativo, inventaram uma arte: atravessar o igarapé nadando. E advinhem... de gaiato lá fui eu! No meio do trajeto encontramos o caminho das tábuas atravessando as águas, e servindo como uma de nossas paradas. Seguimos e aí que a coisa pegou: me deu um pequeno cansaço, o que fez os meninos se atrasarem (perdoem-me!) pra me aguardarem no meu nado "cachorrinho". Continuamos pelo igarapé, com as triviais paradas na sua margem e a cada pausa alguém me dava força pra prosseguir. No final estava o Edivan e o Carlos me dando força: "vamos, tenta nadar de costas, tu consegue, não era tu que dizia que era pra gente ter coragem!?", dizia o Edivan na mais bela frase companheira que escutara neste passeio. Seguimos para arrumar nossas coisas e esperar o ônibus que vinha nos levar de volta.
Com o coletivo chagado, fui logo me despedindo dos companheiros e companheiras quilombolas no qual me deram um forte abraço e um sorriso cheio de energia. Saimos acenando e pegando estrada rumo à Belém. Depois apoiei minha cabeça na janela do lado da cadeira que vinha no ônibus e dormir de cansado. Me disseram que vieram cantando aquela música "demoníaca" quase a viagem inteira, mas eu tava em outra estação...
Cheguei no bairro e segui rumo a minha casa com saudades daqueles momentos...
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