A Morte das CEBs

sábado, 3 de novembro de 2007


As CEBs e a Teologia da Libertação estão mortas. Foi desasa maneira que um representante da Igreja de Mercado me expôs sua opinião tempos atrás. A conversa prosseguiu e ele comentava ainda que “temos uma marca milenar para vender, isto é, a cruz", um "produto fantástico como o evangelho" e não sabemos aproveitar os meios de comunicação. Falou-me ainda que dava cursos de "marketing religioso" que aconteciam em bons hotéis e a inscrição era de R$ 250,00. Lembro-me que arrematou: quem quiser ser mordido por mosquito que vá procurar outro lugar.


Depois, remoendo o que ouvira, eu tive a certeza que a "Igreja de Mercado" é uma realidade trabalhada, construída e uma tentativa - mais que sincera - de evangelizar segundo as regras do marketing e do mercado. Claro, os pobres, a justiça, as CEBs, uma teologia libertária, "os mosquitos" não são conteúdos e produtos vendáveis numa Igreja de Mercado. Claro ainda que para essa mentalidade Deus cabe num frasco de perfume e pode ser vendido como um produto entre outros. Claro ainda que esse evangelho tem que ser mutilado, podado na sua profecia, na sua opção pelos pobres, na sua cruz, naquelas exigências que questionam o comportamento humano e que não caberiam na ideologia da mídia dominante. Claro que aqueles que trocaram os confortos do primeiro mundo para mergulhar no mundo dos pobres - alemães, italianos, americanos e até brasileiros - não são os evangelizadores ideais para essa Igreja. Claro ainda que para essa mentalidade o evangelho é um produto a ser vendido, não uma boa nova a ser anunciada gratuitamente. O que recebestes de graça, dai gratuitamente.

Esse final de semana tive vários encontros com as CEBs aqui no sertão. Na região de Serrolândia faziam uma festa para angariar fundos para a luta pelas cisternas. Fiquei admirado com a quantidade de jovens. Aqui em Juazeiro era o encontrão para preparar o Nordestão das CEBs em Alagoas e o próximo intereclesial do ano que vem em Minas. As comunidades se sentem "mais abandonadas". Sentem também que a "opção pelos pobres está meio esquecida", "que já não há tantos padres e irmãs interessados". Porém, fazem questão de dizer pela vida e pelos atos que estão vivas. Na reflexão sobre espiritualidade, todas as dimensões do texto base do intereclesial estão presentes: a luta social, ecológica, dos jovens, das mulheres, etc. Nada escapa. Sabem que não são mais as preferidas, que são minoria, que não têm TV, que não têm marketing, que não produzem dinheiro, fama, sucesso e nem atraem mais a atenção especial da Igreja. Mas sabem também que ainda têm muita gente fiel e caminhando com elas. O povo é sábio e sabe olhar por onde passa o interesse de seus pastores. Entretanto, se os pastores católicos se afastam, outros se aproximam, ainda que muitos - nem todos - sejam mercenários.


As CEBs estão mortas para aqueles que nunca se aproximaram delas ou para aqueles que delas se afastaram. Prosseguem como um "pequeno resto". Olhando o balanço dos anos - estavam os velhos, adultos, mas a maioria era os jovens - afirmaram que a luta vale a pena e continua. As comunidades "colocaram a Bíblia na mão do povo, criaram movimentos sociais por todo o Brasil, elevaram a cidadania dos pobres e, principalmente, ajudaram tomar consciência que Deus caminha com os pobres". Essa herança é indestrutível. É como se dissessem: não precisamos do mercado, da TV, de dinheiro, da fama, do sucesso e seja lá o que for. Deus está conosco. Como dizia Ibiapina, há 150 anos atrás missionando o sertão: "só Deus é grande". Como dizia Paulo: "o resto é lixo".

Por Roberto Malvezzi (Gogó), Comissão de Pastoral da Terra/BA

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