A reflexão sobre a realidade onde vivemos e atuamos, sobre a missão e o jeito de ser Igreja a partir da pessoa de Jesus, são elementos que determinam a pastoral juvenil que precisamos. “Conhecer os jovens é condição prévia para evangelizá-los. Não se pode amar nem evangelizar a quem não se conhece[1]”.
Acreditando na importância e no potencial dos/as jovens em promover grandes transformações na sociedade, queremos chamar atenção de nossa ação evangelizadora no sentido de assumir claramente, afetiva e efetivamente, a prioridade a Evangelização da Juventude em nosso Plano Pastoral Paroquial, em comunhão com as demais instâncias e documentos eclesiais.
O RETRATO DA REALIDADE:
Definir o que é juventude é algo complexo. Por sua diversidade, talvez o plural “juventudes” seria o termo mais apropriado para designar essa massa predominante da população. É uma “fase marcada por processos de desenvolvimento, inserção social, e definição de identidades, o que exige experimentação intensa em diversas esferas da vida”[2]. Todavia, nota-se que muitos jovens não conseguem vivenciar dignamente esta etapa.
No bairro do Benguí, os jovens são atingidos pelos mecanismos da exclusão social, fruto do capitalismo. Os fortes problemas que se deparam são: envolvimento com drogas, banalização da sexualidade, gravidez na adolescência, prostituição, homicídio, fragilidade no sistema de ensino e desemprego.
O “medo de sobrar”[3] tem levado muitos jovens a entrarem cedo na criminalidade. O fácil acesso ao tráfico de drogas é também um fator que estimula a entrada destes no narcotráfico. Enorme quantidade de jovens recorrem às drogas buscando abrandar sua fome ou para escapar da cruel e desesperadora realidade em que vivem[4]. Pelo menos em nossa área, há vários pontos de comércio ilícito de drogas, onde cada vez mais, adolescentes e jovens, são recrutados para exercer a função de “aviãozinho”[5].
A mídia também tem grande influência na vida destes. Alem de apresentar grandes marcas no qual o acesso econômico é limitado a uma minoria, possui forte capacidade de indução no qual muitos destes tendem a sacrificar certos valores materiais e morais, fortalecendo com isso a cultura do consumo. As grandes “micaretas” conseguem aglomerar grande quantidade de jovens para assistir seus ídolos e consumir produtos que a publicidade induz e reproduz.
As instituições de ensino do bairro, também apresentam certas insuficiências. As escolas não conseguindo atender a demanda estudantil local, faz com que muitos busquem estabelecimento de ensino além das adjacências. Percebe-se uma certa banalização na educação. Além da ausência de recursos humanos e didáticos, a proposta de ensino baseia-se na produtividade subjetiva, na competitividade e no mercado.
Na religião, vemos grande presença juvenil somando através de suas expressões artísticas. Todavia, muitos são cooptados e levados a vivenciar uma fé alienante e intimista. Muitos tendem visualizar a Igreja simplesmente como uma instituição de distante diálogo[6]. É preocupante o fato da maioria dos jovens atingidos pela ação pastoral da Igreja na catequese crismal, não têm sido conquistados para um sólido engajamento na comunidade e algumas vezes, não se sentem acolhidos por estas.
Nesta conjuntura é importante destacar algumas formas novas de participação da juventude e programas sociais voltados especificamente a este público. A participação juvenil nos círculos sócio-políticos e culturais tem sido um grande espaço de atuação de seu protagonismo. Somos gratos também a algumas entidades, ações e articulações grupais que, somando forças, promovem a participação transformadora da juventude. E neste rumo, merecem destaque algumas mãos que se dedicam à evangelização juvenil e a atuação de jovens nos demais segmentos pastorais, colocando-se a serviço como na catequese, liturgia, etc.
POR ONDE ANDA O DISCURSO DO MAGISTÉRIO?
Claro que a Evangelização da Juventude, não é algo de hoje. E a Igreja Católica é a instituição que mais acumula experiência no trabalho juvenil. Recentemente, lançou 2 documentos: “Evangelização da Juventude: desafios e perspectivas pastorais”[7] e “Documento de Aparecida”[8]. Tomemos estes documentos para uma olhar macro sobre os jovens.
Tais documentos apresentam a violência como uma fonte de sofrimento da juventude: “a violência se reveste de várias formas e tem diversos agentes: crime organizado e o narcotráfico, grupos paramilitares, violência na periferia, violência de grupos juvenis e crescente violência intra-familiar”(DA n.78). “A violência das grandes cidades atinge particularmente os jovens. Segundo dados do Ministério da Saúde (Sistema de Informações sobre Mortalidade – Datasus), em 2002, morreram no Brasil 28 mil jovens de 20 a 24 anos, sendo que 72% destas mortes foram ocasionadas por causas externas. Os jovens do sexo masculino são a maioria dessas vítimas: 18,5 mil mortes, o que corresponde a 80,5% do total”(CNBB, Doc. 85, n.259).
Na perspectiva “cultural” os/as jovens aparecem levados pelos impactos da pós-modernidade e da mídia: “... os jovens são vítima da influência negativa da cultura pós-moderna, especialmente dos meios de comunicação, trazendo consigo a fragmentação da personalidade, a incapacidade de assumir compromissos definitivos, a ausência da maturidade humana, o enfraquecimento da identidade espiritual, entre outros...” (DA 318). “Dentre os muitos elementos da nova cultura pós-moderna que influem no processo de evangelização dos jovens e no fenômeno da indiferença de uma parcela da juventude face a Igreja, destacamos a subjetividade, as novas expressões da vivência do sagrado e a centralidade das emoções” (DA 445)[9]. Em relação a escolaridade, as estatísticas relativas a este segmento social são alarmantes. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD, em 2003, havia no Brasil 23,4 milhões de 18 a 24 anos, o que representava, aproximadamente, 13,55 da população total, e apenas 7,9 milhões (34%) estavam freqüentando a escola” (CNBB, Doc. 85, n.255)
Considera-se também o fato que os jovens são “presas fáceis das novas propostas religiosas” (DA n. 444). “Além disso, fenômenos que marcam a dinâmica do campo religioso na atualidade são intensificados quando se trata da população jovem, como a busca contínua por uma expressão de fé que dê sentido às suas vidas ( o que acelera o trânsito religioso); a atração por manifestações religiosas exóticas; e a elaboração de sínteses pessoais a partir do repertório de crenças e práticas disponíveis em vários sistemas religiosos” (CNBB, Doc. 85, n.42)
E AGORA?
Consegue-se perceber a equiparação entre as realidades e os discursos apresentados. Isso responde que não estamos vivendo uma realidade particular, claro que com suas tonalidades específicas. Logo somos remetidos a comungar de algumas ações já desenvolvidas em vista da libertação integral.
A opção preferencial pelos jovens é retomada nestes dois documentos oficiais da Igreja[10]. O que se espera é que não corra o risco de ficar somente no “discurso” ou que se reduza somente a uma opção afetiva. E isso requer preocupação com o protagonismo juvenil nas diversas instâncias e com a formação de agentes no acompanhamento grupal, em especial, assessores/as.
Seria um pecado nos omitir ao que foi apresentado. Movidos pela mística da construção, pretendemos fortalecer nossa missão com os(e como) jovens. Oxalá possamos abrir caminhos para fortalecer o desenvolvimento da juventude, crendo na sua capacidade de transformar trincheira de idéias e sonhos, em realidade.
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[1] CNBB, Doc. 85, 2007, n.10
[2] cf. FREITAS, Maria Virginia de. Juventude e Adolescência no Brasil; referências conceituais. São Paulo, Ação Educativa, 2005. p.31.
[3] NOVAES, Regina e VITAL, Cristina. A juventude de hoje: (re) invenções da participação social. In: THOMPSON, Andrés (org.). Associando-se à juventude para construir o futuro. São Paulo, Peirano, 2006. pp. 112-113.
[4] Em alguns locais no bairro, encontramos adolescentes e jovens utilizando drogas em plena luz do dia.
[5] Pessoa designada para transportar drogas ou informações aos traficantes.
[6] Em muitos casos, essa idéia é reproduzida pelas próprias lideranças eclesiais.
[7] Tema das Assembléias de maio de 2006 e 2007 do Episcopado Brasileiro.
[8] Texto conclusivo da V Conferência do Episcopado Latino-Americano e do Caribe.
[9] Há também destaque do mesmo assunto no n. 65 neste mesmo documento.
[10] cf. Documento de Aparecida, n446a; CNBB, Doc.85, 2007, n.4.
1 comentários:
Eduardo, parabéns pelo blog... achei que o fundo preto está dificultando a leitura... a letra está um pouco pequena também!
Mas a iniciativa é muito boa!
abração,
Tiago Braga
PJ BH
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